quinta-feira, 14 de outubro de 2010

LOGRO

O LOGRO



. Sou a rainha da Inglaterra.

Não. Não, vai dar muito na vista.

Que tal: - Sou a irmã da rainha!

Não, também acho que não vai colar.

Então: - Sou prima da rainha; ou talvez cunhada; ou talvez, quem sabe, só uma amiguinha do chá das cinco, hem que tal? ! .

E lá se foi uma mentirinha escabrosa e fútil. Mentira é algo felino, tem pernas curtas, ou seja, na maioria das vezes não vai muito longe antes de cair; é uma bola de neve; ou um novelo sem ponta; ou um salto quebrado; uma cárie no dente ou um cisco no olho; de repente pode ser até mesmo uma privada entupida; uma mala sem alça; uma curva mal feita e no final de tudo UM CAIXÃO SEM TAMPA. Cuidado com as MINHOCAS; estão escondidas na terra; é melhor fechar a boca; arrolhar os ouvidos e tapar os olhos.

Meu amigo, a coisa é feia.

Há mentiras de diversos tamanhos, de inúmeras cores, de peso e formatos variáveis; de efeitos exuberantes e resultados catastróficos. Elas podem vir no plural ou no singular. Podem ser pessoais ou comunitárias. Surgem ao acaso ou são maquiavelicamente programadas. Têm duração de alguns segundos ou se perpetuam pela eternidade; enfim a mentira é ardilosa e comprometedora.

É, quero dizer, compromete o mentiroso e o caluniado.

Sendo assim, vejamos:

- Caro amigo! Como tem passado!

Ih! Lá vem o chato, pensa o “ caro amigo “ do recém-chegado e diz logo de cara: - Rapaz, quanto tempo não o vejo, mas sente-se, vamos tomar um trago “ meu amigo “.

Calculemos então: - dois mentiroso se encontram e numa fração de segundos já mentiram. É bem verdade que não passou de uma mentirinha leve, cor de rosa, passageira e de curta duração, MAS É UMA MENTIRA.

Ouçamos mais um pouco: - Por onde tem andado caro amigo? ( pergunta o mentiroso recém-chegado ).

- Tenho andado muito ocupado, trabalhando muito, muitas atividades na empresa, muitos compromissos, e é claro, o tempo que sobra, diversifico entre as loiras e as morenas; sabe como é né.. ( responde o mentiroso já instalado ).

- E você amigo, anda sumido também!

- Pois é rapaz, eu também ando bastante ocupado com a firma; temos fechado muitos contratos novos e à noite, bom, à noite você sabe que eu sou o rei da mulherada?...

E assim os dois “grandes amigos” entre tragos e bla´- blá – blá- se despedem cordialmente entre tapinhas nos ombros e recomendações à família, e seguem seus caminhos. Um vira a esquina do bar à esquerda, outro vira a esquina do bar à direita.

Caminham, atravessam ruas, pegam o ônibus, andam mais um pouco e se deparam com as chaves dos seus albergues na mão e o LOGRO cai: - logo de cara, no primeiro degrau a conta de luz com aviso de corte porque a do mês anterior não foi paga; no segundo degrau tropeça e deixa cair um pedaço de jornal amarrotado que escondia no meio da pasta rota e sem fecho onde haviam vários recortes e círculos na seção de emprego; curva-se para apanhá-lo e uma leve tonteira ao levantar-se lembra-o que andou tomando uns tragos com o estômago bastante vazio e finalmente quando abre a porta e se depara com sua solidão e abandono, sente nas reminiscências de sua alma que tudo não passou de uma grande mentira.

Quando podemos afirmar que a mentira é ‘CABELUDA’, densa e causa danos irreparáveis?

Este logro tem sua origem em mente prodigiosa. Ele é cautelosamente planejado, é ardiloso, e quando vem à tona, detona como uma bomba. Primeiramente os estilhaços da detonação atingem o caluniado. É, o caluniado. Porque o logrador não mente para atingir a si próprio, logicamente, é para atingir a outro, ou a ouros. Então, quando vê seu alvo finalmente fulminado, recosta-se prazerosamente em sua rede e rejubila-se do seu feito, sentindo-se o mais venturoso dos mortais.

O tempo passa e vira e mexe, ele o logrador, se depara com o mutilado do seu ‘ LOGRO’. Então ele olha, examina, ronda, cospe no chão, pisa em cima, dá e ombros, e segue seu caminho, tranqüilo e em paz com sua consciência.

Lá um belo dia, espreguiçado em sua rede, despretensiosamente em paz consigo mesmo, ele percebe a chegada do lanceiro da justiça e este lhe crava o punhal sagaz nas reminiscências de sua consciência e o logrador tomba ao chão como árvore podre e infrutífera.

- Olá como está se sentindo senhor? ( pergunta a sentinela do céu )

- Ora, não me enche o saco, abra logo a porta que eu quero entrar!

- Sinto muito meu senhor, mas por esta porta só passam os puros de coração.

- Mas quem você pensa que é? Sabe com quem está falando?

- Senhor, permita-me acompanhá-lo à sua nova morada ( responde a sentinela do céu ).

O logrador arregala os olhos sobre o brilho reluzente da linda carruagem que o aguarda. Senta-se no banco traseiro e segue confortavelmente o longo caminho florido, cheio de luz e harmonia, quando de repente a carruagem ESTANCA à porta de um gigantesco portão.

A sentinela do céu desce e solicita carinhosamente ao logrador: - O grande portão abre uma pequena fresta e a sentinela do céu convida: - Senhor chegou, por favor, queira me acompanhar.

O logrador entra e se depara com uma tabuleta enorme com os dizeres: “ ALBERGUE DOS MENTIROSOS “.

Olha para um lado, olha para outro lado, olha para trás e mal consegue ver alguma coisa, pois a escuridão, o barulho, o mau cheiro e a escassez do ar não lhe permitem muitos movimentos e quando se lembra do portão, volta-se rapidamente para ele e, cravando os joelhos no chão duro e seco, cobrindo o rosto com as mãos, compreende, finalmente, que está lacrado nos recônditos de sua própria consciência e chora e maldiz amargamente à sua dor.

O logrador entra e se depara com uma tabuleta enorme com os dizeres “ ALBERGUE DOS MENTIROSOS’.

Olha para um lado, olha para o outro, olha para traz e mal consegue ver alguma coisa, pois a escuridão, o barulho, o mau cheiro e a escassez do ar não lhe permitem muitos movimentos e quando se lembra do portão, volta-se rapidamente para ele e, cravando os joelhos no chão duro e seco cobrindo o rosto, compreende, finalmente, que está lacrado nos recônditos de sua própria consciência e chora amargamente a sua dor.

É amigo velho, o mentiroso antes de tudo e credor de suas próprias mentiras e verdugo da sua existência, portanto, CUIDADO, o lanceiro da justiça e a sentinela do céu estão vigilantes.

Cale-se,ou tenha sempre em mãos uma lanterna,pois as trevas o espera.

AUTORA DO TEXTO: ROSALI GAZOLLA
Snitramus







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